É para o menino ou para a menina?
Depois de ler o artigo “McDonald's assume discriminação em refeições infantis e diz que vai mudar” fiquei com um misto de raiva e alívio. Raiva pela situação descrita ainda ser a realidade, e alívio por estar prestes a mudar.
Segundo o artigo do DN, a quem tenho de tirar o chapéu metafórico nesta situação, a McDonalds em Portugal ainda não aderiu às normas da empresa que já desde 2014 deixou de discriminar nos EUA os brinquedos oferecidos nos menus de criança pelo género da mesma. No entanto, em Portugal, para além do raro brinquedo unissexo, há uma distinção clara entre os “Happy Meal rapariga” e os “Happy Meal rapaz”. Essa distinção faz-se nos cartazes publicitários, mas também no dia a dia do restaurante no qual os empregados devem entregar o brinquedo à criança consoante o género do mesmo.
Quando confrontados com o assunto, a Mcdonalds tentou “safar-se” culpando a língua portuguesa pela falta de forma de identificar os brinquedos sem ser pelo género da criança a quem eles seria destinados. Totalmente compreensível.... not! Porque não perguntar “Queres o My Little Pony ou o Transformers?”, os brinquedos que foram ofertas do Happy Meal até dia 18 de Fevereiro. Culpem a língua portuguesa, culpem...
Se continuarem a ler o artigo do DN vão ainda descobrir coisas assustadoras como um questionário que dava opção de resposta sobre a sua personalidade de “feliz”, “generosa” ou “leal” para as crianças que escolhiam o My Little Pony (assumindo-as como raparigas), e “calmo”, “temível” e “audaz” para os que escolhiam o Transformers (assumindo-as como rapazes).
Passando da raiva para o alívio, a empresa já prometeu procurar reformular a decisão de apresentar os brinquedos associados a um género específico, o que muito agradou à secretária de Estado da Igualdade, Catarina Marcelino, que referiu: "Não há brinquedos de menino e de menina. Aquilo que se lê naqueles questionários e a prática de dividir brinquedos por sexo é uma atitude discriminatória que reforça os estereótipos de género. Obviamente não podemos [o governo] concordar com essa discriminação.".
Este exemplo das más práticas do McDonalds é só isso mesmo, um exemplo. Infelizmente, ainda estamos muito longe de uma sociedade em que a discriminação por género, ou a discriminação por alguém não se identificar com o seu sexo, ou por não aceitar ser rotulado por género nenhum, estão longe de ser resolvidas. Todos podemos ajudar com pequenas acções como, por exemplo, ao desenvolver um inquérito ter sempre uma opção de género “não-binário” ou pormos os nossos filhos, sobrinhos... a brincar com brinquedos que são associados retrogradamente ao outro género.
Ana Sofia Santos