Da mui nobre arte do fellatio político
De tempos a tempos, tenho o hábito de abrir vários jornais online, desde o expresso, ao observador, passando pelo i. Também, de tempos a tempos, gosto de me perder em leituras de artigos de opinião, de João Quadros no Jornal de Negócios, passando por Henrique Monteiro, Daniel Oliveira e Diogo Agostinho no Expresso, Viriato Soromenho Marques no DN, ou Artur Pereira no I. Entre opiniões completamente díspares do meu pensamento, a textos que daria para ter sido eu o autor de tão brilhantes, interessantes que são, tenho encontrado de tudo, e uso os mesmos para reflectir sobre a realidade de várias pontos de vista. Contudo, e apesar de respeitar imenso as opiniões mais adversas e contrárias ás minhas convicções, há limites para o que o bom senso e a própria capacidade de encaixe do bonus pater famílias consegue suportar, falo da coluna de opinião de António Ribeiro Ferreira, no jornal I.
O referido opinador, conceituado jornalista, não teme a utilização da expressão golpista, de forma contínua, para apelidar António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, utilizando ainda outros sinónimos e expressões de pouca elegância para adjectivar o novo governo, os seus apoiantes e ainda as suas políticas. Para exemplo basta ver a crónica desta segunda-feira, onde o referido jornalista e agora opinador tem a oportunidade de pintar a revogação da privatização da TAP como um acto de lesa pátria, de crime contra a Nação, de algo inqualificável e quase um fundamento para que o cadafalso seja colocado no Terreiro do Paço para que os golpistas paguem (quando precisamente acontece o caso Banif, e que o comentador slash jornalista não entendeu por bem ser merecedor de opinião). Mas, contrastando com este ódio venenoso, esta raiva colérica, António Ribeiro Ferreira brinda-nos com avés á direita e a Cavaco Silva, construindo figuras messiânicas de salvação que apenas ousaria ouvir em emissões da Igreja Maná e personificando-as em Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Para este jornalista a navegar as marés do comentário político, a Direita é a solução de todos os problemas, e a Esquerda é a origem de todos os males, á Direita tudo é permitido, à Esquerda tudo lhe está vedado, para a Direita todos os fellatios políticos que possa executar são poucos, para a Esquerda, cada palavra de ódio fervoroso a disparar é pouca. Para a próxima semana iremos assistir ao auto de fé do “golpista” António Costa por ter vendido o Banif ao desbarato, qualificando a atitude como a pior de todas, sem nunca conseguir explicar o que a sua amada Direita iria fazer (fez) com o referido banco.
Curiosamente, António Ribeiro Ferreira apelida de cegueira ideológica a questão da TAP, mas esquece ele mesmo que a sua própria cegueira lhe tolda por completo a visão do mundo que certamente não corresponde á realidade minimalista que pretende transparecer. Se lhe é lícito opinar desta forma? É sim, sem dúvida. Se me é lícito arrogar ao direito de me enojar com a contínua desonestidade intelectual e a chalaça a roçar a falta de respeito de um cidadão que é jornalista, para todos os efeitos. Enfim, que António Ribeiro Ferreira continue na senda da cruzada ideológica no seu espaço de opinião que eu continuarei cá para ler, rir-me e comentar.