Os Cartazes de Marisa
O artigo de opinião de José Manuel Diogo no JN, intitulado de “Os Cartazes de Marisa”, revolta-me. Revolta-me a mim e deveria revoltar a todos nós, homens e mulheres. Dizer que Marisa Matias se apresenta nos seus cartazes de forma sexy e sedutora e que essa é uma estratégia errada para ganhar eleições presidenciais (mas que seria a estratégia certa caso fossem outras eleições) revolta-me.
No entanto, os comentários sexistas não tiveram apenas Marisa Matias como alvo, o autor do artigo refere-se a uma estratégia do Bloco que Esquerda que assente em mulheres jovens e bonitas, como a Mariana Mortágua e a Catarina Martins, para ganhar eleitorado. Em outros artigos que entretanto foram publicados sobre o assunto referem-se ainda a Joana Mortágua.
Mas focando-nos nos cartazes de Marisa Matias. São criticados os ângulos de onde foram tiradas as fotos e os slogans escolhidos. Tenho a certeza que num cartaz exactamente igual estivesse um homem não haveria problema nenhum, mas sendo uma mulher o seu olhar torna-se inequivocamente uma arma sexual e o slogan um apelo à conquista. Eu até podia dizer que o que me incomoda mais é a existência da híper sexualização da mulher no mundo e na política, que é ridículo descredibilizar uma mulher por ser jovem e bonita, poder-me-ia referir aos ataques constantes de que as mulheres são alvos na sua actividade política por a sua voz não ter o timbre correcto, por não mostrarem firmeza a não ser que se comportem de forma “máscula” ou por serem alvo de críticas quando decidem que o seu papel político vai para além dos Gabinetes de Mulheres Socialistas e outros que são considerados “apropriados para as mulheres”. Mas o que me revolta mais, o que me revolta mesmo, é saber que o único motivo pelo qual estas mulheres são vítimas de comentários deste género é o simples facto de serem inteligentes.
Se Marisa Matias, Mariana e Joana Mortágua ou Catarina Martins fossem mulheres lindas jovens e burras não haveria problema nenhum. O problema é tão “simples” como elas serem inteligentes e, ainda por cima!, “acharem que podem”, “terem o descaramento”, de o mostrar na sua acção política.
Podia dizer muito mais sobre o caso, mas fico-me por um obrigada! Obrigada Marisa Matias, Mariana e Joana Mortágua, Catarina Martins, e todas as outras mulheres jovens, lindas e inteligentes que fazem trabalho político, por lerem artigos de opinião como estes e ainda fazerem um melhor trabalho no dia seguinte, porque sabem que a melhor forma de contraditório que as mulheres possuem não são os seus “berros esganiçados”, mas sim mostrarem dia após dia o seu valor.
Ana Sofia Santos